
Sobre empatia
“Não estejas triste, é Natal”. Quantas vezes já ouviu, ou já disse, esta frase?
No Natal, somos invadidos por uma espécie de magia que anda no ar. Entramos no espírito das festividades, celebramos com a família e com amigos, tentamos relativizar os problemas. Porém, eles não desaparecem, estão lá. Apenas têm luzinhas a disfarçar.
Para algumas pessoas, esta época festiva intensifica a tristeza que sentem. Ao dizermos a alguém para não estar triste porque é Natal, pode acrescentar um peso demasiado árduo para ser suportado sozinho. E a tristeza pesa a dobrar: se o motivo é a perda de alguém próximo, no Natal dói mais. Se é por não ter dinheiro para comprar os presentes aos filhos e poder preparar uma ceia de Natal, no Natal custa mais. Se o motivo é a solidão, no Natal sente-se ainda mais.
A felicidade não é uma obrigação. A tristeza também não. São caminhos que nem sempre são escolhas. Obrigarmo-nos a nós mesmos, ou a alguém, a um estado de felicidade forçado pode ser mais penoso ainda, com consequências emocionais catastróficas, que muito frequentemente resultam em sintomas físicos. Tentemos colocar-nos no lugar do outro: a isto, chama-se empatia.
Do ponto de vista psicológico, empatia é precisamente a capacidade de sentirmos o que uma outra pessoa sente, caso estivéssemos na mesma situação. É tentar compreender sentimentos e emoções de forma objectiva e racional, “calçando os sapatos do outro”.
Assenta essencialmente em alguns pilares fundamentais, como a consciência acerca da perspectiva de outra pessoa. Ter esta noção, que parece tão simples (porém bastante complexa para pessoas menos empáticas), é a base para os pontos que se seguem:
– não julgar;
– saber escutar;
– compreender as emoções do outro;
– ter a capacidade de criar laços;
Existem pessoas mais empáticas do que outras, no entanto, é uma capacidade que se trabalha ao longo do tempo, e que pode fazer a diferença na hora de ajudar a serenar as dores de alguém. Pode ser a diferença entre o fracasso e o sucesso, uma tábua de salvação que surge muitas vezes sob a forma de um sorriso, um gesto de compreensão.
A boa notícia é que esta capacidade pode ser desenvolvida, e aplica-se quer em contexto pessoal, quer na vida profissional. Exige algum trabalho interior, é certo, mas algumas dicas simples ajudam a descomplicar:
- estimule a curiosidade sobre as pessoas, especialmente acerca aquelas que não conhece, desta forma conhece outras perspectivas, descobre novos interesses e ganha mundo;
- saia da sua zona de conforto: vivenciar novos ambientes e experiências oferece-lhe também novas ferramentas na hora de compreender melhor as emoções do outro;
- trabalhe a escuta activa, que mais do que ouvir, é compreender as dores e as necessidades das outras pessoas;
- explore as emoções, para além da razão. Nem sempre é fácil, mas permita-se a descobrir-se sem medo;
- reflicta acerca dos seus preconceitos, que alteram a capacidade de criar empatia com pessoas diferentes de si.
Se é para alinharmos no verdadeiro espirito do Natal, então sejamos mais empáticos, e especialmente mais cautelosos com o que dizemos. Tentemos antes entender as dores do outro, e, sobretudo, estejamos mais atentos. A empatia ajuda a carregar os pesos mais pesados, ajuda a aliviar a carga.
É certo que não conseguimos resolver todos os problemas de todos os que estão à nossa volta, mas podemos ajudar a serenar a dor, evitando frases feitas que apontam o dedo, que colocam sal na ferida. Façamos um exercício de mudança no discurso, onde frases que acarretam responsabilidade, dão lugar a frases de compreensão, de ajuda.
Neste Natal, ofereça empatia.
Deixe um comentário